O passado é um imenso pedregal que muitos gostariam de percorrer como se de uma auto-estrada se tratasse, enquanto outros, pacientemente, vão de pedra em pedra, e as levantam, porque precisam saber o que há por baixo delas.
José Saramago

28 de dez. de 2008

Não queria dar trabalho...

Essa culpa-judaico-cristã de que não conseguimos nos desvencilhar é o que mais me devora. Sentimento que chega a ser mesquinho de tão inútil e que só nos aumenta o fardo e o peso nos ombros, até a nuca dói. Ela repete, a cada vez que chego para a visita obrigatória, que não queria atrapalhar minhas férias, estragar minha vida, adiar meus planos, gerar despesas. A ladainha começa antes mesmo do Olá, como vai ou de um simples Bom-dia. O lenga-lenga se repete a cada vez que falta assunto e substitui o Tchau, até amanhã. E fico desconfiada de que o sentimento de culpa que faz questão de demonstrar é na verdade uma mensagem (mal) cifrada, ela apenas joga na minha cara meu próprio egoísmo. Faço ares de irritação divertida para mascarar uma irritação verdadeira – será que não consigo nem disfarçar que sim, estou mesmo decepcionada por perder a tão ansiada, e merecida, semana de descanso à beira-mar? E a culpa que ela diz sentir – e que soa como um pedido de afago que não sei fazer – é lançada sobre mim qual um dardo venenoso, sou eu a culpada agora, mais uma vitória da mater dolorosa sobre a péssima filha.

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