Cinco dias de chuvas ininterruptas, das finas e constantes e das que desabam feito cortinas de águas de março, mas é quase janeiro abrindo o verão. No que seriam pequenas estiagens, há a garoa fina e a névoa que encobre a paisagem, num ar que se corta a faca. Cinco dias e cinco noites que parecem de choro, às vezes manso, quase sempre convulso. E sem luzes ou ruídos de raios e trovões, céu cinza, o silêncio dos pássaros, as ruas desertas e a água – que se acumula no asfalto, que invade as frestas das janelas, que encharca as lajes, que goteja pelo teto, que se infiltra pelas paredes, que mofa nossa alma tanto quanto a roupa no varal. Hoje é o sexto dia, alguns raios de sol tentam, finalmente, ultrapassar as grossas nuvens e surge alguma claridade, uma luz que se acende, ainda fraca, ainda distante, no fim do túnel. Apesar dos baldes que aparam os pingos grossos que rompem as bolhas da pintura e apesar dos mortos que povoam o noticiário da TV, já é possível lembrar que o sol brilha, embora não se possa vê-lo.
29 de dez. de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário